segunda-feira, fevereiro 20, 2006
Aquele homem...
"Aquele homem encontrará uma mulher da qual não pensa estar enamorado e da qual teme estar enamorado. Cauteloso como é, vigia os próprios sentimentos, examina-os um por um. Nenhum deles é indicativo de paixão e no entanto a continuada análise, o interrogatório confere a cada sentimento uma tonalidade de culpa que é semelhante ao rubor da paixão. Esta mulher encontrará aquele homem. No início não o ama mas está extremamente desconfiada quanto a todas as possibilidades de o amar. Portanto, ao não amá-lo comporta-se como alguém que nega a si e aos outros o amor. Ambos são subtis e logo desconfiam um do outro mas continuam a procurar-se. Os discursos são cultos mas não isentos de passionalidade. Todos os assuntos os inflamam graças ao autêntico interesse mental. Ambos são dotados de uma rica capacidade de comunicação mas de repente torna-se necessário encontrar interlocutores pertinentes. Não falam um do outro a pessoas conhecidas de ambos e evitam-no firmemente mas aos poucos o abstracto profundo desperta neles essa necessidade. As posições parecem-lhes claras, a paixão surge...e mais uma vez desconfiam um do outro por situações não claras e dentro deles, bem lá nos seus íntimos muito vezes dizem adeus mesmo antes de se terem encontrado numa perfeita fusão de almas. Aquele homem denota um esforço em entrar no interior daquela mulher, mas esta mulher sente que nunca entrou no dele. Esforços nunca vencidos e secretamente mantidos no abstracto dos seus interiores! Não obstante aquele homem escolheu amar esta mulher e por sua vez a mulher o escolheu como seu amor de modo sincero e franco. Estranheza de sentimentos daquele homem por esta mulher que a fez sentir amada durante três horas e que nos últimos vinte minutos já não faz. Esta mulher protege a sua dor mas sem nunca deixar de vigiar a dor do outro. Esta mulher deu-se a conhecer a fundo áquele homem que com paciência e talento a trespassou para depois invadir o território de toda a sua angústia. Mostrou-lhe a sua posição clara, honesta e explícita e ele mostra-se inconstante e não claro. É como se bruscamente aquele homem virasse as costas e sussurrasse ternamente" Adeus" à mulher que sempre se preparou para encontrar. Mas esta mulher ainda encontra aquele homem, dentro dela...precisamente no local onde ele achava nunca ter entrado e de onde nunca saíu. Chegado a este ponto aquele homem fica pensativo...deixando esta mulher cair numa cilada do "não claro" que só terminará quando tiver saído de dentro dela irremediávelmente! Esta mulher denota a falta de interesse daquele homem em entrar novamente e cansada do não claro deixa-o sair...a menos que aquele homem ainda a queira encontrar, mas é bom que se apresse antes da porta fechar. Porque se aquele homem ainda ama esta mulher terá que lutar, assim como ela luta para não o deixar sair, sem nunca se cansar de procurar e querer encontrar. Esta mulher é mulher e quer aquele homem como homem para nele se perder, para nele se encontrar...basta que aquele homem não deixe que esta mulher o arranque de dentro dela irremediavelmente".
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