Olha-me nos olhos,
E não mais palavras que isso.
Para quê mais imperfeições
Que a perfeição que diz tudo?
Palavras.
Não gastes o que não tens,
Não uses o que não possuis,
Não te arrependas do que não dizes,
Não te limites a ver: olha somente.
Por uma vez, por um momento,
Olha com olhos de quem não vê,
Olha com olhos de quem sente.
Olha com o olhar cego e perdido
De quem olha por não saber que olha, de quem olha por não saber olhar.
E olha, e não tenhas pressa.
De aprender,
De te prender,
Não tenhas pressa.
Porque tudo acaba um dia, sabes,
E a eternidade está cada vez mais curta,
E o para sempre teima em não ficar,
E o para sempre acaba,
E o nunca esvai-se cada vez mais rápido...
Deixa-te ir pelo olhar cego e pela mão invisível,
Que te guia nele,
Sem te prender, porque o amor é prisão com a porta aberta.
Nada te prende nele. Sem ele, nada te liberta.
Aprende agora a ver, como se abrisses os olhos
Pela primeira vez nos meus.
Aprende a ver o que é agora, e a não desejar mais que isso,
Nem mais tempo que o que temos, ainda que não saibas quanto é,
Pois se o rio não sabe onde corre, nem chora quando seca.
Faz do olhar prolongamento da alma,
(Tão urgentemente como da morte prolongamento da vida)
E das palavras artefactos obsoletos da futilidade do mundo,
E do tempo ferrugem que corrompe a perfeição,
E não digas nada que o silêncio diga melhor.
Apenas o teu olhar, sem palavras, apenas isso.
Fora de perseguições inúteis de desejos e ideais,
Perfeições e imortalidades,
Existências inexistentes e improváveis.
Amor? Não mais que vês.
Não o que observas, não o que reflectes, não o que passas pelo filtro da razão,
(Qual pura impureza da emoção).
Amor.
Nada senão o halo etéreo a tender para o inexistente, condensado no espaço vítreo e efémero do teu, amor, olhar.
Sem comentários:
Enviar um comentário