Não é a vida que se não viveu que se desgosta.
Estou inerte e contudo ainda com tanto por te dar.
Sentada, deitada, imaculada, cheia de prazer por ti.
As paredes amarelas não me trazem a paz que tanto prometeram e no entanto,
são elas que anunciam a tua ausência, que sei de cor.
Tentei tantas e tantas vezes acordar,
a ver se o amor se esvaía e por fim tudo deixava de ser um lugar honrosamente estranho.
Planeio fugas à tua consciência,
saber se ainda penas em mim,
mesmo quando não o dizes,
mesmo quando não me olhas,
mesmo quando não sentes.
Dizem que hás-de caminhar para a morte contínua,
que nunca poderás andar, mesmo quando eu só te imagino a correr na minha direcção,
que a tua fuga foi de ti próprio
e de algo que eu nunca poderia compreender
e que mesmo assim, eu sei que sempre aceitaria.
Sou rigorosa o suficiente para não me veres cair
e benevolente demais para me veres chorar.
Não há sofrimento que ultrapasse a vontade que é querer-te perdoar ,
sem saber que ângulo escolher
ou a felicidade de nunca te dizer adeus
enquanto os teus olhos não se afastarem dos meus.
O que interessa da vida é a bagagem nos nossos SONHOS
Por isso, não acordo
e deixo-me sorrateiramente imaginar que me abraças
enquanto te agarro e volto a sentir a tesão que só sente quando percebemos que o amor é um acto falhado, em tantos de nós.
Adormeço. Sonho. Vivo.
Não te esqueço porque não quero.
Não te esqueço porque não tenho graça para suficiente para engrandecer a minha forma, enquanto força que fui.
Tua.
Já não minha
A inspiração que me deste, foi-se enquanto te vi chegar ao mesmo local
onde eu já perdi as mãos entres os cadáveres inanimados que me chegam
ou o sangue que não controlo.
Percebi por via da maldita circunstância,
que Deus não me tinha dado um dom
para o ajudar a salvar aqueles que não receavam a minha ajuda,
mas sim a confrontar a sua própria magnificência
e a provar que também Ele,
embora muito raramente,
não é o ser perfeito que tanto fez questão que idealizássemos.
Por isso, não me levanto mais,
enquanto pouso a bebida que tanto me obrigaste a saber apreciar.
Dizias que tudo é uma questão de contexto e motivação.
Que o ser humano é capaz da maior conquista,
assim como da maior fraqueza evidente e que por isso mesmo,
os acontecimentos teriam de ter o local perfeito para terem ocorrência.
Ocorrência talvez não tenha sido a melhor forma de narrar todos os acontecimentos.
Dizias que gostavas de velocidade e sapiência,
que quem conseguisse dominar estes dois factores aparentemente antagónicos,
controlava a matriz do conhecimento humano e que por isso mesmo,
conseguiria ser mais e melhor.
Talvez por isso, te tenha visto sempre a correr,
tentando compor os momentos com toque infundado de inteligência óbvia.
Mesmo o sexo tinha lugar a partir do corpo e da memória,
as palavras ditas no momento certo,
já que raramente as usavas,
os corpos que balançavam a toda a rapidez
e tu a conduzires a toda a velocidade. Sempre.
Inicialmente não compreendia deliberadamente a tua essência.
Chamava-lhe autismo,
já que parecia que vias um mundo completamente diferente daquele que todos me davam a conhecer e que eu fui também absorvendo.
Falavas-me em estrelas que nunca se soltavam,
sonhos que tinham de ser lidos alto e consequentemente,
lugares que eu sabia que já tinha visto,
mas que tinha a certeza qu e não existiam.
Mergulhavas na bebida, para teres a veracidade que se concede a um homem embriagado e encantavas a plateia normalmente constituída por mim,
com essa noção pouco clara do que era o mundo, de facto.
Não é sobressaltada que abro os olhos
e constato que não estás ao meu lado.
Apenas a bebida e a imagem do que foi restando da minha personalidade
materialista e convicta de que só os objectos perduram na nossa existência.
Talvez porque nunca tivesse querido amar tanto ninguém,
como o faço agora que sei que nunca mais terei a oportunidade
de encantar a porra da morte
e ganhar-lhe alguns minutos.
O que interessa não é a paz de ter chegado.
O que é grande e belo é isto de chegar
E ter logo e sempre a coragem de partir.
Os teus poetas tinham razão e eloquência suficiente,
mas eles não corriam nem fugiam.
Eram lentos e pouco sensíveis à velocidade
e por isso, perduram.
Quando me mostraste a poesia que escrevias com as tuas mãos
que me haveriam de guiar entre essa intenção
que é deixar-se abraçar por inteiro,
percebi que não havia nada que pudesse fazer que me afastasse da esperança
em acordar de manhã e não te querer ver mais.
Não foi a velocidade que te matou
e se foi a ilusão de que não te perdoaria,
então morres em vão.
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